quarta-feira, 4 de julho de 2012

Poemas da minha vida IV

Às vezes, em sonho triste

Às vezes, em sonho triste
Nos meus desejos existe
Longinquamente um país
Onde ser feliz consiste
Apenas em ser feliz.
Vive-se como se nasce
Sem o querer nem saber.
Nessa ilusão de viver
O tempo morre e renasce
Sem que o sintamos correr.
O sentir e o desejar
São banidos dessa terra.
O amor não é amor
Nesse país por onde erra
Meu longínquo divagar.
Nem se sonha nem se vive:
É uma infância sem fim.
Parece que se revive
Tão suave é viver assim
Nesse impossível jardim.
 
21-11-1909
Novas Poesias Inéditas.
Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).
 

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